A perda óssea não é progressiva:
Em 2005 foi publicado por Fransson um impressionante trabalho de acompanhamento de 10 anos em que 662 pacientes com próteses sobre implantes foram avaliados radiograficamente e o índice de perda óssea progressiva foi de apenas 28%, ou seja, 72% dos pacientes, após dez anos, apresentaram a reabsorção óssea marginal exatamente como ela acontece no primeiro ano, apenas 1,5mm ao redor da mesa do implante. Só apresentaram maior perda óssea, pacientes que tinham condições de higiene ruim e doença periimplantar instalada.
Por que acontece esta remodelação óssea?
Muitas teorias já tentaram explicar a causa da remodelação. A primeira delas é biomecânica. Em estudo de análise foto-elástica publicado em 2000 por Ivanoff é possível entender que os implantes cilíndricos hexágono externo apresentam uma dissipação de carga maior na área peri-cervical do implante, ao redor da mesa do mesmo e também no ápice. Por este motivo, por muitos anos acreditou-se que esse padrão de estresse gerava a remodelação óssea por excesso de carga.
A segunda teoria é biológica. Vários sistemas de implante permitem transito de bactérias para dentro e para fora da câmara interna do implante segundo Gross 1999. A presença destes micro-organismos e seus compostos tóxicos são lesivos aos tecidos e podem causar a remodelação óssea pela inflamação da região. Implantes hexágono externo, segundo Binon 1996, apresentam uma desadaptação maior ainda, necessária para que haja assentamento entre as partes que se acoplam e são paralelas.
A teoria mecânica talvez não explique totalmente o fenômeno, pois há evidências de implantes que não foram carregados, mas apresentaram remodelação. Em estudo feito por Bruyin em 2001 avaliou no mesmo paciente implantes sepultados, implantes carregados imediatamente e implantes com cicatrizador, expostos na boca, mas sem carga e comprovou a remodelação óssea cervical ao redor dos implantes não carregados.
Bruyin em 2001.
Outra evidência que refuta tanto a teoria mecânica quanto a biológica é a consagração da plataforma invertida (em inglês: platform switch). É consenso na literatura mundial que componentes com diâmetro menor que a plataforma do implante preservam osso marginal, como demonstrado por Lazzara em 2006.
Lazzara 2006.
Uma terceira e mais recente hipótese para a remodelação óssea marginal é a formação de distâncias biológicas nos componentes. A migração do epitélio forma um sulco ao redor das coroas implanto suportadas. Este epitélio, para manter suas atividades mitóticas produz constantemente fator de crescimento epitelial (em inglês: Epidermal growth fator – EGF). Segundo Consolaro 2009, o fator de crescimento epitelial tem uma ação no tecido ósseo, ativando a atividade de osteoclastos e mantendo a distância. Isto explica não haver osso em contato com epitélio, em nenhuma região do corpo humano.
Com remodelação ou sem remodelação, implantes estão em função há décadas e as taxas de sucesso são impressionantes. Em áreas estéticas, mesmo havendo remodelação em modelos de hexágono externo, há a preservação da arquitetura gengival, principalmente em unitários, porque as papilas estão aderidas nos dentes adjacentes, como descrito por Kan em 2003, na época em que eram mais prevalentes os implantes de hexágono externo.
Atualmente, tanto no mercado nacional quanto mundial, os implantes cone morse são uma realidade e a tendência é que não se fabrique mais hexágono externo. Isto não quer dizer que os resultados estéticos vão melhorar. Sempre, melhores resultados serão obtidos com treinamento dos profissionais. Atuar na implantodontia na área estética demanda conhecer as técnicas de preservação do formato do alvéolo, que sempre associam enxertos de tecido conjuntivo e as vezes tecido ósseo. Técnicas de cirurgia na área estética seguem alguns princípios fundamentais: o mais importante deles, para casos de extração e implante imediato: é proibido incisar as papilas. Elas não têm volume suficiente para serem divididas ao meio, trazendo um dano irreparável, com a perda de volume do tecido. Conseguir obter resultados previsíveis como o ilustrado abaixo, demanda conhecer estes princípios e também saber realizar um perfil de emergência adequado da prótese.
Caso particular Dr. Heitor Cosenza.
Este é um assunto que tenho pesquisado, treinado e falado muito pois os casos mais complicados na área estética são os que envolvem perda das papilas e na grande maioria dos casos, isso acontece por técnica cirúrgica inadequada. Resumindo, depois de tentar fazer a cirurgia sem estar preparado, o profissional acaba ficando em uma situação difícil com o paciente e tenta recorrer a um profissional que se preparou mais. Infelizmente, não há muito o que fazer porque papilas são estruturas que podem ser mantidas, mas não podem ser criadas. O tema deste manuscrito é osseointegração a longo prazo e os eventos que acontecem na região peri-cervical. Outras postagens sobre estética e manejo de tecidos moles serão escritas em breve. É possível preservar a osseointegração para sempre, mas como fazê-lo? Como já citado, o osso ao redor do implante irá amadurecer e após oito meses de carregamento, falhas mecânicas dificilmente irão acontecer. Falhas de longo prazo só acontecem ou por fadiga dos materiais ou por presença de biofilme, que irá causar periimplantite e perda óssea. Implante de marca boa é feito com matéria prima boa, simples assim, e não entra em fadiga, ou seja, não quebra. Quanto a presença de biofilme, a solução é simples, mas envolve uma cultura de boa higienização e zelo por parte do paciente. A regra é fio dental e escova todos os dias e isto não é nada novo. O cirurgião dentista deve ter como hábito passar essa cultura de higiene e motivar sempre o paciente a manter seu trabalho protético implanto-suportado. Uma forma muito eficiente de manter o paciente motivado e pegar os problemas no início e organizar um programa de manutenção em que o paciente é chamado no consultório periodicamente para revisão e orientação. Não é fácil conseguir essa colaboração, mas uma vez que o paciente higieniza bem e visita periodicamente o dentista, os tratamentos tem sua durabilidade aumentada em muitas vezes.O tratamento não consiste somente nas questões técnicas dos procedimentos, mas sim no extermínio das causas do problema inicial e no controle preventivo dos problemas futuros. Assim como carros, os tratamentos odontológicos não são para sempre e precisam de revisão. Fazer o paciente entender isso é o nosso dever e assim a osseointegração pode ser preservada para sempre, se a cultura de higienização e revisões permanentes for uma realidade para o paciente.